Realizada para a Childhood Brasil com patrocínio do Instituto Arcor Brasil, Fibria e MAN Latin America, a pesquisa O Perfil do Caminhoneiro Brasileiro 2010 confirma que os profissionais estão mais conscientes sobre a gravidade do problema de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.
A pesquisa foi conduzida pelo núcleo de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe em parceria com o núcleo de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob coordenação do Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos, que também integrou a equipe do estudo desenvolvido em 2005.
Com o propósito de atualizar os dados sobre o perfil do caminhoneiro aferidos no estudo anterior, foram entrevistados 343 caminhoneiros entre junho e setembro de 2010 em sete cidades brasileiras: Porto Alegre (RS), Itajaí (SC), Cubatão e Santos (SP), Belém (PA), Natal (RN) e Aracaju (SE). Nesta nova versão, a pesquisa contou com um grupo de controle composto por participantes vinculados a empresas signatárias do PNMC.
“Os resultados da pesquisa comprovam que estamos no caminho certo para ampliar a rede de proteção de crianças e adolescentes da exploração sexual nas rodovias brasileiras, com a soma de esforços do poder público, das empresas signatárias e dos próprios caminhoneiros”, destaca Rosana Junqueira, Coordenadora do Programa Na Mão Certa.
Um dos dados mais significativos é a diminuição no número de adultos envolvidos no sexo com crianças e adolescentes. Quando questionados se já saíram com crianças ou adolescentes, 82,1% dos entrevistados disseram que não, contra 63,2% em 2005.
A pesquisa mostrou também que os caminhoneiros estão mais conscientes em relação à exploração sexual de crianças e adolescentes: em 2010, 37% disseram saber que essa prática é errada, enquanto em 2005 apenas 20,8% responderam dessa forma.
Também houve um aumento no número de motoristas que já utilizaram o Disque-Denúncia: 4,9% em 2010, contra 1,3% em 2005. No levantamento anterior, apenas 12,1% disseram já ter dito algum contato com campanhas contra exploração sexual de crianças e adolescentes; em 2010, esse percentual praticamente triplicou, subindo para 30,4%.
Quando se compara o grupo de entrevistados em 2010 com o grupo de controle, os dados são também significativos, apontando para uma possível efetividade da implementação do programa de intervenção nas empresas. O grupo de controle apresenta maior acuidade na percepção do problema e conhece mais os serviços de proteção (87% conseguem apontar o problema entre os colegas e 94% conhecem o número do Disque-Denúncia).
O nível de escolaridade registrou um pequeno aumento, sendo que 34,4% têm ensino fundamental incompleto (contra 34% em 2005), 24,6% fundamental completo (contra 23,9%) e 25,4% médio completo (contra 19,7%). Este dado, juntamente com outras questões qualitativas, aponta para a maior profissionalização da área.
O risco de acidentes, a insegurança e a violência continuam sendo os maiores problemas enfrentados na profissão, mas também são apontados fatores como distância da família, má qualidade das estradas e baixa remuneração.
“Os resultados podem ser encarados como positivos, uma vez que mesmo enfrentando problemas parecidos com os de cinco anos atrás, a categoria apresenta sinais de maior profissionalização da área”, afirma o coordenador do estudo, Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos. “Todo o estudo indica que a estratégia da informação no enfrentamento da ESCA pode ser uma receita de sucesso”.