Foram ouvidas vítimas com idades entre 10 e 19 anos em oito estados brasileiros sobre questões como saúde, drogas, suicídio, violência e sexualidade.
A Childhood Brasil, organização que trabalha pela proteção da infância e adolescência contra a violência sexual, realiza pela primeira vez no Brasil a pesquisa “Vítimas da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: Indicadores de Risco, Vulnerabilidade e Proteção”, que avalia o contexto de risco, vulnerabilidade e os indicadores de proteção para meninas e meninos envolvidos em situações de exploração sexual.
O estudo é inédito no país por abordar o tema em uma perspectiva multimétodo (contemplando dados quantitativos e qualitativos) e multicêntrico (com amostras de todas as regiões do Brasil). A pesquisa foi realizada em oito estados brasileiros (Pará, Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí, Bahia, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul) e ouviu crianças e adolescentes com idades entre 10 e 19 anos, vítimas desse tipo de violência. A equipe de pesquisadores foi coordenada pelo Prof. Dr. Elder Cerqueira-Santos, da Universidade Federal de Sergipe.
No total, foram ouvidas 69 crianças e adolescentes, sendo 66 meninas. Todos tinham vínculo com instituições de assistência. Entre os dados mais significativos obtidos estão:
De modo geral, as vítimas ainda moram com a família, mesmo tendo relatado história de abuso intrafamiliar e envolvimento de parentes na inserção ou manutenção da exploração sexual comercial. Apesar de não haver nenhuma ação social voltada especificamente para essa família, a pesquisa mostrou que o maior medo da maioria das vítimas é perdê-la (76,8%).
Mesmo entre as crianças e adolescentes vítimas, é possível fazer uma distinção. Aqueles que ainda permanecem envolvidos na exploração sexual comercial apresentam média de idade mais alta (15,32 anos) e tiveram o primeiro coito mais cedo (12,7 anos). Também têm menos vínculo com a família (53%), estão fora da escola (34,1%) e possuem renda familiar mais alta (R$ 457). Seu nível de religiosidade é mais baixo (2,8 pontos em uma escala de 1 a 5) e sofreram mais abuso sexual (média de 1,43 em uma escala de 1 a 5).
O percentual de participantes que declara a exploração com ganhos financeiros aumentou de 60% no passado para 65% no presente. Esta constatação é preocupante, pois indica que, mesmo estando em instituições de assistência, essas crianças/adolescentes continuam se envolvendo na ESCA.
Chama a atenção também o fato de que o acesso a bens de consumo e drogas é o principal destino dado aos ganhos oriundos do envolvimento com a situação de exploração sexual. Apesar disso, a pesquisa mostrou que, mesmo ligadas a uma instituição de assistência, as crianças e adolescentes continuam envolvidos com a exploração comercial. Por outro lado, a instituição escolar aparece na pesquisa como uma rede de apoio eficaz. Os dados indicam a escola como a principal variável para aumento da auto-estima, qualidade de vida e afastamento da situação de exploração.
A pesquisa que acaba de ser concluída é uma nova etapa do trabalho desenvolvido pelo Programa Na Mão Certa que desde 2006 mobiliza governos, empresas e organizações do terceiro setor em torno do enfrentamento mais eficaz da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras. Ela foi realizada com o apoio financeiro das empresas Fibria, Gerdau e Veracel empresas signatárias do Programa Na Mão Certa.